Betim, fundada no século XVIII por bandeirantes como Joseph Rodrigues Betim, surgiu como uma rota próspera de mineração e agricultura. Após um período de adaptação à crise aurífera, a cidade se reergueu com a indústria, especialmente a instalação da Fiat, nos anos 1960. Hoje, além de ser um polo industrial, Betim preserva sua rica cultura com festas e tradições, como o Reinado de Nossa Senhora do Rosário. Seu espírito de resiliência e crescimento é visível tanto na economia quanto nas suas memórias vivas.
O município de Betim – MG tem o seu início marcado através da ocupação luso-brasileira a partir do final do século XVII, quando sertanistas e aventureiros paulistas descobriram metais e pedras preciosas em Minas Gerais. Assim como outras diversas cidades mineiras, a atual Betim é também perpassada pela consequência, direta ou indireta, do processo de mineração e exploração do Brasil Colônia.
A sua atual região fazia parte de uma importante rota de bandeirantes, que vinham de São Paulo a Pitangui, atraídos pelas descobertas minerais. Como a rota que passava por Betim era próspera, o bandeirante Joseph Rodrigues Betim, cunhado do bandeirante Fernão Dias Paes Leme, solicitou a distribuição de terras destinadas à produção agrícola nesta região em 1711. Betim herdou seu nome deste pioneiro bandeirante, que não permaneceu nestas terras, transferindo-se para Pitangui em 1714. O local, situado no Vale do Ribeirão da Cachoeira, atualmente conhecido como Rio Betim, pertencia à Vila Real de Sabará. Nesse sentido, a doação impulsionou o estabelecimento de diversos núcleos de povoação, destacando-se o arraial Bandeirinha do Paraopeba.
Uma vez instituído o processo de povoação, houve a solicitação à Igreja Católica da construção de uma capela, em 1750, em que o monte escolhido para o templo deu origem à Capela Nova de Betim. Ao longo desse período e, precisamente entre 1760 e 1800, o arraial prosperou de maneira a ser elevado a distrito em 1797. Com a crise aurífera, que atingiu todo o Brasil Colônia ao final do século XVII, o arraial adaptou-se de modo a construir sua resistência, através da instauração das atividades agrícolas e pecuárias. Nesse contexto, a cidade direcionou suas atividades econômicas para a subsistência. Dessa forma, foi possível manter a agricultura e pecuária como pilares fundamentais. Isso especialmente nas fazendas associadas à família Nogueira Duarte, localizadas na região da Serra Negra.
Às margens do Rio Betim, olarias e moinhos de fubá floresceram, totalizando 35 estabelecimentos. Mesmo durante a crise, a história de Betim demonstra resiliência ao adaptar-se e preservar suas raízes agrícolas e pecuárias. Assim, construindo as bases para seu futuro desenvolvimento econômico e social. Por volta de 1864, o local contava com quatrocentas e oitenta casas e quarenta fazendas. A lavoura era ocupada, em sua maioria, por café, algodão, milho, feijão e arroz.
Apesar de sempre ter sido distrito de Sabará, Betim foi, durante três anos, distrito da Vila de Santa Luzia, quando esta se emancipou em 1847. Quando Santa Luzia foi novamente emancipada, em 1856, tanto a Capela Nova de Betim, quanto Santa Quitéria, continuaram a ser distritos de Sabará. Posteriormente, em 1891, Betim foi novamente transferida, mas desta vez para Santa Quitéria, que se emancipou de Sabará.
Apenas em 1938 que foi elevado a município, através de uma reforma administrativa empreendida pelo governo do Estado, através do Decreto do Governador Benedito Valadares Ribeiro, de n° 148, datado em 17 de dezembro. As solenidades de instalação do Município e Comarca de Betim foram realizadas em 1° de janeiro de 1939. Em 1948 é desmembrado do território de Betim o Município de Contagem e em 1962 o Município de Ibirité. A justificativa circunda, principalmente, a pavimentação da Rodovia Fernão Dias (BR 381), que foi responsável por intensificar os loteamentos ao longo do novo eixo de expansão industrial da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Nas décadas de 1940 e 1950, Betim voltou a ter importante função de local de passagem das rotas de abastecimento, desta vez destinadas à capital, Belo Horizonte. O planejamento estadual destinou a Betim duas outras funções econômicas: a industrialização de base ou de bens de capital, representada pelas siderúrgicas aí instaladas, e a produção de alimentos para o abastecimento da capital. Juntamente com Pedro Leopoldo, Santa Luzia, Nova Lima, Sabará, Vespasiano e Lagoa Santa, Betim constituiria o chamado “Cinturão Verde” de Belo Horizonte. Entretanto, nenhuma destas duas intenções político-econômicas alterou substancialmente a economia betinense, que permaneceu intensamente voltada para a subsistência.
Outro grande impulso econômico aconteceu na década de 1960, com a instalação da Refinaria Gabriel Passos e da Fiat Automóveis, por iniciativa do governador Rondon Pacheco. A industrialização de Betim mudou seu caráter de cidade interiorana, multiplicando sua população e diversificando sua cultura. Com a implantação da Fiat Automóveis e suas indústrias-satélites formou-se em Betim o segundo pólo industrial automobilístico do país.
Por outro lado, torna-se necessário também apontar os seus traços culturais formadores, principalmente as histórias locais que, mesmo sendo constantemente perpassadas pelas transformações políticas e econômicas, se mantiveram na vértebra social e cultural formadora da região. Como forma de exemplificação, podemos citar a festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário da Colônia Santa Isabel, o Ofício da Benzeção, a cultura de Mestres, Rodas e Grupos de Capoeira de Betim, a Folia de Reis do Bairro Santo Afonso, a festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário e o Salão do Encontro, consideradas não apenas parte das organizações culturais, tradicionais e artísticas mas, principalmente, patrimônios imateriais de Betim.
No entanto, o que mais nos interessa aqui é o Salão do Encontro, que foi fundado em 1970 por Dona Noemi Gontijo e pelo Frei Estanislau Bartold, com o objetivo de desenvolver um trabalho assistencial voltado para a formação e autonomização na comunidade. O Salão constituiu-se como uma organização de direito privado e beneficente, que buscaram, ainda, o auxílio às famílias da periferia de Betim.
O trabalho é realizado por meio de projetos que visam a formação de cidadãos conscientes e participativos, capazes de construir seus próprios projetos de vida e contribuir para o desenvolvimento da comunidade. O Salão do Encontro foi registrado como patrimônio imaterial de Betim, em 2000, desenvolvendo suas atividades no Bairro Santa Lúcia. Seu trabalho tem sido reconhecido em diversas instâncias e instituições no Brasil e no mundo, estando, portanto, registrado como Lugar-referência do patrimônio cultural de Betim
A sede da instituição, atualmente, é situada no bairro Angola e constitui-se como o local que atende um maior número de pessoas através de programas da Educação Infantil, Educação Complementar, Assistência e Desenvolvimento Social, além de oferecer uma Biblioteca Comunitária. Além de todo o trabalho social que oferece, sua função também atua na preservação da memória e história oral do local, servindo como meio de conservação das tradições locais de Betim.
Vinde, moças! Vinde, moços!
Todo o povo do lugar!
Abram ouvidos pra ouvir!
Abram olhos pra olhar
A novidade do dia
Que eu vim para lhes contar!
Vinde, moças! Vinde, moços!
Vinde, todos, escutar
O que agora vou dizer,
O que agora vou contar:
É a ESTAÇÃO DAS HISTÓRIAS
Que acabou de chegar!
Vai juntar as duas pontas:
O passado e o presente!
O que ficou na memória
E aquilo que é recente,
Duas pontas que se juntam
Na história desta gente!
Vinde, moços! Vinde, velhos!
E povo de toda idade!
A Estação das Histórias
Chegou a esta cidade
Pra falar de PATRIMÔNIO,
De ARTE e de IDENTIDADE!
Permitam-me apresentar:
O meu nome é Juvenal
E vim falar com vocês
De um assunto especial!
A conversa de hoje é sobre
PATRIMÔNIO CULTURAL.
Patrimônio cultural,
Afinal, o que seria?
São as manifestações
E tudo que um povo cria
Ao longo de sua história,
No passado e hoje em dia.
Cada geração recebe
Daquela que veio antes
Uma herança cultural,
Um legado importante,
Que ela usa e modifica
E depois passa adiante.
Mas nem tudo que se cria
Vai durar pra toda vida:
Uma parte se preserva,
Outra parte é esquecida,
Quem decide o que guardar
É o povo em sua lida.
Patrimônio é um tesouro
Que os nossos antepassados
Nos deixaram de presente.
Precisa ser preservado,
Pois que conta a nossa história,
Como foi nosso passado.
Patrimônio é um tesouro
Que está vivo numa arca!
São riquezas, são saberes,
São memórias… Tudo abarca
Das gerações que passaram
E deixaram a sua marca.
Mas é bom não esquecer:
Patrimônio é coisa viva.
O que hoje nós criamos
De maneira coletiva
Expressa aquilo que somos,
Nossa face criativa!
Patrimônio engloba tudo:
Os modos de trabalhar,
Festas, jogos, culinária,
As formas de se dançar,
rap, slam, artesanato,
Nosso jeito de rezar.
Há duas categorias
De bens patrimoniais:
Obras, quadros, documentos,
Prédios são MATERIAIS;
Ideias, festas, receitas
São os IMATERIAIS.
Eu vou explicar melhor:
Todo bem MATERIAL
É concreto e tangível
– tangível é, no geral,
Aquilo que se dispõe
Para o toque manual.Já o IMATERIAL
É todo bem abstrato.
Uma dança, uma festa,
Uma peça de teatro:
Só quando alguém executa
É que as vemos, de fato.
Agora, vamos saber
Como é nesta cidade!
Quais são os bens preservados
Que lhe dão identidade?
São prédios, parques, igrejas,
Praças, festas, irmandades!
BETIM tem os patrimônios
Que contam a sua história:
A Fazenda Ponte Nova,
O Cine Teatro Glória,
Colégio Comercial
Onde o Museu é a memória.
A Usina Gravatá,
Capela São Sebastião,
E Capela do Rosário;
Tem o prédio da Estação,
Portal da Santa Isabel
E Ofícios de Benzeção!
Chama Josephina Bento,
Sua Casa de Cultura,
Tem o Acervo do Padre Osório,
E o Monumento que inaugura
A rodovia Fernão Dias,
Para o progresso, abertura.
Na Antiga Escola Clóvis,
Biblioteca Municipal
Leonor de Aguiar Batista,
A Caixa d’Água, imortal!
Casa da Gilda e pessoas
Como Frei Stanislaw!
O Museu Paulo Gontijo,
E a Igreja do Rosário,
Praças do Óleo, Milton Campos,
Que compõem seu cenário,
E tem o Salão do Encontro,
Obra de amor solidário.
Tem dona Noemi Gontijo,
Fundadora do Salão,
Zé Maria Pé de Alface,
Que ficou no coração,
E a doida da Igreja Velha,
Conhecida por Torrão.
Betim tem na capoeira,
Um importante legado.
Com vários mestres e rodas,
E grupos por todo lado.
Tem a folia de reis
E tem também o congado!
Os vossos antepassados
Cumpriram a trajetória.
Agora é a sua vez
De inscrever sua memória,
Na história desta cidade
Que é também a sua história.
Vinde, moças! Vinde, moços!
Vinde mostrar sua voz!
Junte rap, slam, passinho,
À história dos seus avós
Que o patrimônio do futuro
É feito, agora, por nós!